Quem quer trabalhar em casa deve tomar alguns cuidados e precauções para ser notado e garantir um crescimento na carreira.
Em entrevista para o Valor Econômico, a Dra. Luciane Orlando, consultora executiva de carreira da Thomas Case & Associados, pontua que para lidar com esse cenário, os profissionais precisam ter claros quais são seus objetivos de carreira e agir de forma intencional rumo a essas metas.
Apenas fazer um bom trabalho e esperar que isso seja notado pode não ser o suficiente. Confira a matéria escrita por Bárbara Nor.
O trabalho remoto vem se tornando a ambição de cada vez mais profissionais. Para muitos, trabalhar em casa significa menos tempo e dinheiro perdido no trânsito, mais tempo com a família e os pets e flexibilidade para poder viajar ou trabalhar de outros lugares. Mas tantos benefícios não vêm sem alguns efeitos colaterais.
De acordo com dados do Escritório de Estatísticas Nacionais do Reino Unido, os trabalhadores remotos trabalharam quase o dobro de horas extras em relação àqueles que ficaram no escritório entre 2013 e 2020 – mas tiveram menos da metade da chance de serem promovidos em um período de cinco anos. Eles também tinham, em sete anos, 38% menos chance em média de receber um bônus quando comparados àqueles que nunca trabalharam fora do escritório.
Se por um lado essas diferenças de percepção devem começar a mudar conforme os modelos de trabalho remoto e híbrido se tornam mais comuns e aceitos nas empresas, quem quer trabalhar em casa deve tomar alguns cuidados para garantir um crescimento na carreira. “Tem três problemas principais para quem está no home office e quer crescer na carreira e ocupar posições de liderança”, diz Ilana Berenholc, especialista em presença executiva.
1) As pessoas têm menos oportunidades para desenvolver relacionamentos
2) Há menos oportunidades para desenvolver habilidades gerenciais
3) Falta de visibilidade
“Aquela frase ‘longe dos olhos, longe do coração’ faz muito sentido nesse contexto”, diz Berenholc. Quem não é visto, afinal, é menos lembrado – mesmo que tenha um ótimo desempenho. E, não só a pessoa em home office participa menos no dia a dia de conversas no escritório, mas também tende a perder happy hours informais, conversas de corredor e nos almoços.
Para lidar com esse cenário, os profissionais precisam ter claros quais são seus objetivos de carreira e agir de forma intencional rumo a essas metas. Apenas fazer um bom trabalho e esperar que isso seja notado pode não ser o suficiente.
No home office, mantenha uma linha de comunicação com o seu chefe
Ter uma comunicação constante com o gestor aumenta as chances de o trabalho ser visto e o profissional, lembrado. Berenholc sugere procurar o líder e estabelecer um dia da semana para conversar e apresentar o andamento do trabalho, assim como os objetivos e resultados. É a oportunidade também de perguntar sobre como estão outros projetos e áreas da empresa e entender o momento da organização. Mas segure a ansiedade. Mostrar resultado o tempo todo, todos os dias, pode acabar sendo cansativo. “A comunicação deve ser frequente, mas relevante”, diz Berenholc. “Não é contar sobre cada suspiro que você faz.”
Para Luciane Orlando, consultora executiva de carreira da Thomas Case & Associados, consultoria de recursos humanos, esses momentos também devem ser a hora de solicitar feedbacks e pedir para que juntos, funcionário e líder, desenvolvam um plano de desenvolvimento, caso isso já não tenha sido feito. “Assim, você deixa claro que está interessado em crescer”, diz. Além disso, você terá mais clareza sobre o que precisa fazer para se destacar.
Quando participar de reuniões, eventos e mesmo conversas mais informais, a dica para o profissional é usar o momento para captar informações sobre como anda o clima no escritório e quais os temas que têm movimentado as pessoas – coisas que não necessariamente serão expressas de forma direta. Ou seja: não se distraia ou fique ocupado com outras coisas enquanto ouve a reunião no fundo.
Se ouvir comentarem algo sobre um assunto que você não sabe a respeito, tome nota para depois perguntar para um colega ou o chefe. Vale também ficar de olho nos comentários que são feitos para entender como fazer o trabalho melhor. “Fique atento aos feedbacks que são dados ao grupo para poder alinhar o ritmo de trabalho e como se posicionar”, diz Orlando.
Investir no networking dentro e fora da empresa
“A maior furada é acreditar que todas as conversas relevantes acontecem em reunião”, diz Berenholc. Quem está no home office precisa ser mais criativo e criar situações que se aproximem dos encontros espontâneos que acontecem no trabalho presencial. Uma saída é agendar cafés virtuais – ou, se for possível, almoços presenciais. Procure também pessoas que estejam no modo presencial que possam ser seus aliados no dia a dia. “Você pode pedir para que elas falem de você quando surgirem discussões importantes”, diz Berenholc. Elas podem, ainda, manter o profissional a par de conversas que aconteceram quando não se está presente.
Outra ferramenta é usar redes sociais, como o LinkedIn, ou da própria empresa. “Você pode entrar, continuar fazendo seus contatos pela rede, participar de grupos, levar ideias para a empresa”, diz Orlando. Faça o mesmo com clientes: estabeleça contatos frequentes com eles e tome a iniciativa para entender necessidades e oportunidades para a sua organização. No entanto, evite postar no horário de trabalho e de forma excessiva.
Muitas empresas usam também ferramentas de colaboração on-line, como o Slack. Ter uma participação ativa nelas também é essencial. Tente ser solícito e ajudar quando realmente puder ajudar – só comentar por comentar em todos os posts pode causar má-impressão.
Além de observar o que acontece na empresa, tenha um controle de quais são as suas entregas – até para poder falar sobre seus resultados de forma clara e objetiva. Procure anotar as atividades que você desempenhou a cada dia e, se possível, quanto tempo levou em cada uma delas e se houve alguma dificuldade. Essa prática vai ajudar, inclusive, a gerenciar seu tempo conforme você entende o quanto cada tarefa leva, além de perceber gaps de desenvolvimento que você precisa cobrir.
Isso exige também organização e disciplina, algo que pode ser mais desafiador no home office.
“Fazer um planejamento da sua rotina ajuda não só a ter uma boa produtividade, mas mostra que você é organizado e sabe construir etapas, discriminar emergências”, diz Orlando. “A pessoa organizada é mais bem-vista.”
Procure manter horários fixos de almoço e de pausas assim como você faria no escritório – até para que as pessoas saibam quando você está disponível, algo que não é fácil de saber quando não estão te vendo.
Na mesma linha de manter contato com os colegas e superiores, é importante não deixar passar a chance de participar de eventos organizados pela empresa. Happy hours on-line, por exemplo, são cada vez mais comuns e podem ser uma oportunidade de conhecer pessoas diferentes, com quem você não convive no dia a dia do trabalho.
“Outra dica é se envolver em projetos, estar ciente do que está acontecendo e participar deles”, diz Berenholc. Grupos internos, como de afinidade e de voluntariado, também são uma ótima saída para se expor a mais pessoas e oportunidades.
Cuidado com a imagem
Na hora de participar de reuniões ou qualquer evento on-line, a regra é clara: câmera ligada, sempre. Mas esse é o básico. Para ser notado, vale tomar alguns cuidados, como ter uma boa iluminação, um ambiente organizado, sem coisas que distraiam as pessoas. “A ideia é chamar a atenção para o seu rosto, e não para o que tem atrás de você”, diz Berenholc.
Estar bem-vestido e manter boa postura também são fatores que podem te ajudar a ser lembrado. Esteja mais próximo da câmera e mostre que você está ativo e engajado na conversa. “Quando falar, se mostre disposto, com energia, preste atenção ao seu tom de voz”, diz Orlando. Outro cuidado, aqui, ela lembra, é garantir sempre que a internet esteja funcionando bem para não comprometer sua participação, assim como equipamentos como câmera e microfone.
Por fim, o que você diz importa. Se não tiver, de fato, nenhuma contribuição para fazer, é melhor não falar. Tentar chamar a atenção a qualquer custo não vai ajudar na carreira. Mas uma saída, nesses casos, é prestar atenção no que está sendo dito e fazer uma questão. “Às vezes você não precisa contribuir com uma resposta, mas através de uma boa pergunta, que vai te fazer ser notado”, diz Berenholc.
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