Por que a inclusão dos profissionais com 50 anos ou mais preocupa a área de Recursos Humanos? Inúmeros estudos revelam como a inclusão de diferentes públicos e pontos de vista dentro de um time gera mais produtividade, inovação e, consequentemente, mais lucro para as organizações. Em seu artigo, Norberto Chadad, Presidente da Thomas Case & Associados, reflete sobre os desafios dos profissionais sêniores em derrubar ideias preconcebidas de que eles não são tão produtivos ou têm mais dificuldade para lidar com a tecnologia.
Tomei conhecimento, recentemente, por meio de um profissional amigo, de uma pesquisa realizada pela ICOM (Independent Marketing Communications Network), uma rede de agências independentes de publicidade de todo o mundo, presidida pelo brasileiro Rino Ferrari Filho. A pesquisa trata dos “Fifties”, que em tradução livre podemos nomear de “Cinquenteens” – ou seja, os profissionais na casa dos 50 anos e mais. Por muito tempo desprezados pelo mercado de trabalho, porque considerados “velhos”, os cinquentões têm um baú de vantagens em relação aos jovens que o mercado tanto preza.
Os jovens são ágeis.
Verdade. Mas agilidade e rapidez nem sempre significam boas decisões. A tomada de decisão precisa ser maturada, ponderada, pensada com base na experiência, comparada com outras decisões para evitar que erros antigos se repitam. Os cinquentões estão à frente, neste quesito.
Os jovens são ousados.
Sim, quase sempre. Mas ousadia é o extremo da temperança. Ousar é bom, mas com prudência, com base em estudos, em comparações, em estudo da linha do tempo. Ousar, sim, mas sem ser temerário, sem medir consequências, é atitude típica de quem viveu mais o mercado e compreende os riscos.
Os jovens são leais.
Isso não é verdade, pelo que a realidade do mercado tem mostrado. Um jovem troca de emprego por alguns poucos reais a mais, se o ambiente ou o tipo de trabalho ou mesmo o nível de pressão dos líderes não os satisfaz. E, muitas vezes, trocam de emprego pelo mesmo salário, apenas por causa de um título mais pomposo. Os cinquentões compreendem melhor o nível de compromisso que o trabalho demanda deles.
Os jovens são persistentes.
Alguns sim, podem ser. Muitos, até. Mas nada como um experimentado senhor (ou senhora) de cinquenta anos ou mais para insistir num desafio até conseguir a resposta ou a solução. Isso porque entendem a satisfação que é superar uma circunstância adversa, desafiar a si mesmo e ao seu conhecimento.
Os cinquentões têm conhecimento mais amplo e uma visão mais larga do mundo, das relações e dos negócios. Pode-se contrapor a isso o fato de que os jovens vivem num mundo virtual, onde se pesquisam informações de múltiplas fontes. Porém, muitas vezes a informação obtida pela Internet é rasa e pouco aprofundada. É preciso vivência para saber como complementar uma informação, onde estão as fontes mais confiáveis e como diferenciar a boa informação daquela que apenas toca a superfície.
Postas essas diferenças, não queremos dizer que os jovens não merecem respeito e oportunidades. Ao contrário, são eles que movem o mundo, que nos lançam para o futuro, que percebem novas maneiras de enxergar e conduzir negócios. O que defendemos é que a experiência, o conhecimento acumulado, a ponderação obtida pelo tempo de atuação, diferenciam as gerações, com muita vantagem para os mais experientes.
Somemos as qualidades dos cinquentões: ponderação, experiência, conhecimento e lealdade. São quesitos fundamentais para qualquer empresa, e que jamais poderiam ser desperdiçados, porque podem ser resumidos em uma palavra: atividade útil. O empresário inteligente não demite o profissional que passa dos cinquenta anos para trocar por dois jovens de vinte e cinco anos que aceitam ganhar um terço do salário. De preferência, mantém os dois.
Até porque, do ponto de vista dos próprios cinquentões, mais de 53% dos profissionais entrevistados na pesquisa se consideram maduros, mas não velhos. E se consideram no auge do vigor físico e mental.
E o mundo reconhece isso. Vejamos alguns dados: 82% dos presidentes das 50 maiores empresas do mundo estão entre os 46 e 60 anos de idade. E mais de 80% dos presidentes dos 50 países com maior PIB do mundo têm mais de 50 anos. Ou seja, a política e o mercado reconhecem a força de trabalho dos cinquentões. Os recrutadores brasileiros precisam pensar melhor sobre isso.