Norberto Chadad, presidente da Thomas Case, aborda em seu artigo a relação entre a vida pessoal e profissional, destacando a importância de manter esses dois aspectos separados e seguir as regras sociais de convivência de cada ambiente. Ele também ressalta a relevância do bom relacionamento no trabalho e a busca pelo prazer e motivação na atividade profissional.
Esse tema é de suma importância, especialmente nos dias de hoje, em que o trabalho consome grande parte do tempo e do compromisso das pessoas. A rotina funcional mudou, o tempo de dedicação mudou, e os horários de trabalho foram estendidos ou reduzidos, sobretudo com o advento do que chamamos trabalho remoto.
Vejo pessoas celebrando a possibilidade de trabalhar part time em casa e part time presencial. E elas festejam isso com uma palavra mágica, que se tornou um mantra nas exigências para aceitar um novo emprego ou para retornar ao trabalho após o afastamento forçado pela pandemia: “híbrido”! Ah, como as pessoas adoram falar essa palavra: “híbrido”!
Contudo, em trabalhos como a transição de carreira, muitas vezes é importante o contato pessoal, para poder enxergar na expressão fisionômica das pessoas a reação de entusiasmo ou desdém, de contentamento ou decepção, de encantamento ou desmotivação. Precisamos de presença. Nosso contato deveria ser presencial.
Vou repetir: o mundo do trabalho mudou. E essa mudança afetou a vida das pessoas em casa.
Mas precisamos considerar alguns aspectos. Primeiro, você não é uma pessoa em casa e outra no trabalho. Você é a mesma pessoa, com as suas urgências, expectativas e compromissos.
Claro, as questões que você enfrenta fora do ambiente profissional influenciam seu desempenho. No entanto, estar em sociedade significa seguir regras. Regras, normas e leis existem para que todos tenham uma existência harmoniosa e respeitosa.
Quando você vai ao psicólogo, deve falar dos seus anseios, fracassos e vitórias, sobre as coisas que o incomodam e aquelas que o estimulam; não fica se queixando da dor na perna ou do diabetes. É o mesmo quando você vai ao médico: não vai se queixar de questões conjugais, vai? Se vai à igreja, não sobe ao púlpito para reclamar do cachorro do vizinho que late à noite. Da mesma forma, se vai para o escritório, não vai ficar relatando os problemas do seu condomínio. Você é a mesma pessoa, sempre, com as mesmas necessidades, mas em cada ambiente deve seguir algumas regras sociais de convivência típicas de cada lugar.
Tenho visto profissionais perdendo o emprego por não apresentarem resultados, e isso porque não seguiram a regra simples de atuar num ambiente em conformidade com o que o ambiente espera deles. Problemas em casa, sim, acontecem com todo mundo. Mas o trabalho espera de você maturidade e estabilidade emocional para agir, no escritório, de acordo com as regras do escritório. O trabalho não é consultório psicológico, não é consultório médico, não é reunião de condomínio nem é a sua casa. O trabalho é o trabalho, e você é a pessoa que foi contratada para desempenhar uma tarefa sem dar preocupação ao seu empregador.
É verdade que você continua sendo a mesma pessoa, mesmo tendo que entregar resultados, apesar de suas preocupações pessoais. Cabe ao seu líder, gerente, diretor, compreendê-lo como um ser complexo e integral. Mas também cabe a você buscar, para o seu bem profissional, o prazer e a motivação para conseguir focar em sua tarefa e superar, no ambiente de trabalho, suas questões particulares.
Difícil? Sim, a vida é difícil às vezes. Mas depende de você aliviar o peso dos problemas e se dedicar para, se não for possível ser feliz, ser correto e respeitoso com seu compromisso profissional.
Ninguém disse que você não pode comentar questões privadas com colegas de trabalho, em momentos que não prejudiquem seu desempenho. Muitas vezes, um bom relacionamento no escritório resolve mais do que uma sessão de terapia. Até porque, a melhor terapia é o trabalho.
Pense, entretanto, no seu papel no mundo.
Guimarães Rosa, nosso grande escritor, escreveu em um de seus livros: “a colheita é comum, mas o capinar é sozinho”. Seja você mesmo, sempre, e respeite sua individualidade. Mas respeite da mesma maneira o trabalho que lhe dá a subsistência e, por que não dizer, a alegria de viver.